“ Há pessoas que cultivam uma difícil relação com o prazer e o afeto ao expressarem um traço depressivo na forma de apreciar as suas experiências pessoais.Qualquer investimento na qualidade de vida  é visto como algo secundário ou uma despesa que afetará o orçamento financeiro. Elas simplesmente monetizam a relação entre esses dois importantes elementos, de forma a se verem aprisionadas pelo sentimento de escassez e de isolamento social.

Essas crenças costumam ser tão fortes e restritivas que limitam a adoção de um estilo de vida mais abundante.  Quem busca o prazer a qualquer custo ou quem não se permite vivenciá-lo como algo natural e desejável, encontra-se em um estado de desequilíbrio com a sua natureza interior e isso naturalmente gera algum tipo de sofrimento.

A vida real é tecida por dramas diante de perdas afetivas, frustrações, conflitos e medos. Não há ninguém que esteja isento de experimentar emoções intensas e negativas. Quem é que não se sente pressionado pelo cumprimento de expectativas idealizadas sobre si próprio e sobre os outros? O jogo dramático é intenso por que desejamos ser competentes, queremos performar e ser aprovados socialmente, mas nem sempre conseguimos atingir esses ideais...

 Diante das reais mazelas da vida, muita gente cultiva um estilo de vida econômico em todos os sentidos, a fim de evitar o sentimento de perda. Refiro-me àquele tipo de mentalidade que não se permite desfrutar das próprias conquistas, por não se sentir merecedor e tampouco conseguir enxergar milhares de razão para agradecer e desfrutar de todas as possibilidades a sua volta.

Diante desse impasse, é preciso um bocado de coragem para a busca de um estilo de vida mais simples e saudável. Dar vazão aos momentos de lazer e de afeto, experimentar descontração, humor e brincadeiras que acionam a criança interior- tão desejosa de viver aventuras e se expressar com alegria, são meios naturais de se viver uma vida que vale a pena ser vivida.

Esse jeito de pensar mais abundante não requer uma condição financeira abastada, ao contrário, é um convite à consciência de vivermos o aqui e agora com um profundo sentimento de gratidão por tudo aquilo que a vida nos proporciona. Nesse sentido, o prazer e o afeto ocupam um lugar vital que nos remete a nossa verdadeira condição: Somos singulares e saber viver é uma eterna produção de arte; algumas vezes bem-sucedida e muitas vezes inacabada! “

Cristina Consalter